-Não ouves a porta?
-Já vou.
-Agora!
-Não sou tua criada.
-Cala-te. Sou eu que te sustento, fazes o que eu digo!
Neste momento, ele deu-lhe um murro e empurrou-a contra a parede onde bateu com a cabeça. Cobarde, pensava ela, bater em quem dava a vida por ele, era mais que cobardia. Aptecia-lhe fazer as malas, deixar a chave em cima da mesa e sair. Sem telemóvel, sem deixar uma carta, sem nada. Ele não merecia que ela lhe desse explicações. Não merecia o que ela aturava por ele. Mas amava-o e ao seu ver, o amor verdadeiro tinha que desculpar todos os erros, pois ela considerava cada murro que levava, cada palavra fria e cada ofensa como obstáculos que tinha que conseguir ultrapassar. E de certo modo, mesmo estando um caco por dentro, por fora mostrava-lhe tudo o que não conseguia ter, coragem. E como ele nunca chegou a conhece-la verdadeiramente, acreditava que a coragem dela era difícil de demolir para tal, a maneira certa era bater-lhe e rebaixa-la para que ela sentisse o medo que aquela coragem lhe fazia sentir.
-Não bebas mais.
-Cala-te.
-Tu prometeste que não o irias voltar a fazer.
-Cala-te vaca.